sábado, 6 de junho de 2009

ARTIGO: TEIXEIRA E SOUZA - O primeiro Romancista Brasileiro


por Sérgio Caldieri *


Antonio Gonçalves Teixeira e Souza escreveu o primeiro romance brasileiro em Cabo Frio, em 1843, e sua obra continua sendo desconhecida pelos brasileiros. O presidente da Academia Cabofriense de Letras, Demócrito Janathas Azevedo, Justo de Carvalho, Abdias do Nascimento, Antonio Olinto, Barbosa Lima Sobrinho, Arthur Poemer, fundaram no MIS, a Comissão Para o Reconhecimento Nacional da Obra de Teixeira e Souza, para que o escritor não continue no esquecimento da memória dos estudantes e professores de literatura.

O primeiro livro de Teixeira e Souza, “O Filho do Pescador”, escrito em 1843, aos 31 anos de idade, foi considerado uma obra com características de folhetim, mas tornou-se uma boa fonte de inspiração mais tarde para Machado de Assis e Lima Barreto, que por coincidência eram mulatos.

Teixeira e Souza criticava os costumes da época e deveria incomodar os poderosos. No livro “Tardes de um Pintor”, escrito em 1844, tocava nas feridas que até o momento não mudou nada depois de 150 anos:

Lamentavelmente, a obra de Teixeira e Souza não foi reeditada, mas ainda há tempo para os editores recuperarem os livros do autor como “A Independência do Brasil” - 1847-1955; “A Providencia” - 1854 e “As Fatalidades de dois Jovens” –1856

O historiador Dalmo Barreto membro do IHGB, sempre muito preocupado com as obras dos escritores esquecidos, achou oportuna a formação da Comissão para o Reconhecimento da Obra de Teixeira e Souza. Ele acha que é uma questão de honra que o brasileiro tome conhecimento dos seus livros, pois todos os seus temas são agradáveis de serem relidos, principalmente a obra “Tardes de um Pintor”.

Dalmo Barreto acha que em qualquer gênero literário existem os bons, os regulares, os medíocres e as sumidades, inclusive entre os críticos. Mas saber não é o bastante - a importante é compreender. Por mais atilado que seja o hiper-crítico não deve esquecer que a verdade não é monopólio seu e ela nem sempre está do seu lado.

Teixeira e Souza é considerado por Dalmo Barreto uma vítima da crítica impiedosa, como suas obras não foram reeditadas, elas ficaram conhecidas somente pelos seus contemporâneos. O povo que tem sede de leitura não pôde conhecer sua obra, pois seus livros não chegaram ao públicos nos últimos 100 anos.

Segundo Ronald de Carvalho, Teixeira e Souza deixou nas suas obras mais intenções que realizações. E digno de notar sua apreciação quando afirma que trabalhou valentemente a prosa e o verso, escrevendo dramas, poemas e novelas, com exuberância incrível num homem quase analfabeto, sem grandes recursos de estilo e cultura. Sobre o prosador diz que Teixeira e Souza, com “O filho do Pescador”, “As Tardes de um Pintor”. Conspiração de Tiradentes delineou os fundamentos do romance popular, descritivo e histórico.

O escritor Afrânio Coutinho acha que “é necessário por justiça, acrescentar dois outros aspectos importantes na ficção de Teixeira e Souza. Em primeiro lugar, o fato de ter incluído no romance “A Providência” episódio cuja ação transcorre no Oriente, o que parece significar uma tentativa de atender à tendência bastante acentuada no romantismo europeu, o exotismo, que entre nós não vingou, apesar dessa tentativa e a de outros autores, como Alencar.

O médico e acadêmico Demócrito Jonathas Azevedo considerou que Machado de Assis, pôde viver mais (Teixeira e Souza morreu aos 49 anos de idade e tuberculose) e assim realizar o seu amadurecimento progressivo, desenvolvendo recursos técnicos e estilísticos, os quais atingiriam a perfeição a partir de “Memórias de Brás Cubas” e “Histórias sem data”. Faltou, portanto, a Teixeira e Souza mais tempo de vida, o que lhe permitiria certamente o aprimoramento de estilo.

José Veríssimo disse que "não é, porém, como poeta que Teixeira e Souza tem lugar nesta geração e nesta história, mas como o primeiro escritor brasileiro de romance, portanto, o criador do gênero aqui".

Pedro Calmon achava que é hora de reavaliarmos a obra deste cabofriense ilustre, reeditando-a e fazendo-a presente nas escolas.

O presidente da Academia Fluminense de Letras, Edmo Rodrigues Lutterbach, disse que lamenta a falta de conhecimento da obra de Teixeira e Souza, que é patrono da cadeira nº 27 da A.F.L. Teixeira e Souza escreveu uma vastíssima obra literária com menos de meio século de vida. Espero com ansiedade uma reedição de suas 16 obras, desse extraordinário fluminense de Cabo Frio, considerado o fundador do romance popular no Brasil".

O jornalista e membro do Conselho Estadual de Cultura, Cursino Raposo, achou que é realmente necessário o lançamento das obras de Teixeira e Souza, o pioneiro da ficção no Brasil, que não deve ser esquecido, "Numa conversa com Edmundo Moniz e Darcy Ribeiro, na nossa primeira gestão na Secretaria Estadual de Cultura, estudamos a possibilidade de reeditar livros com os clássicos da literatura brasileira, em que estaria incluído Teixeira e Souza", Cursino Raposo acha que se deveria recriar o Instituto Estadual do Livro do Rio de janeiro para dar oportunidade à reedição de obras que não interessam aos atuais editores. Mas, Raposo disse que ficou satisfeito de conseguir reeditar “A Confederação dos Tamoios”, depois de 140 anos de atraso.

* Jornalista e Membro do Cenáculo Brasileiro de Letras e Artes e Academia Nacional de Letras e Artes

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